O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem vindo a intensificar a sua hostilidade em relação ao governo brasileiro, impulsionado por uma combinação de divergências ideológicas, políticas económicas e disputas geopolíticas. A tensão agravou-se com os acontecimentos recentes da Cimeira dos BRICS, realizada no Rio de Janeiro, sob presidência do Brasil, e com as declarações de Trump em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, réu num processo por alegada tentativa de golpe.
Numa publicação nas redes sociais, Trump criticou o que considera ser uma “caça às bruxas” contra Bolsonaro, alegando que o ex-presidente brasileiro “não é culpado de nada, a não ser de lutar pelo povo brasileiro”. Trump comparou a situação de Bolsonaro com a sua própria experiência, afirmando: “Aconteceu comigo, vezes 10”.
Além disso, o líder norte-americano ameaçou impor um adicional de 10% de tarifas sobre produtos de países que se alinhem com as políticas do BRICS, que descreveu como “antiamericanas”. Ainda que não tenha detalhado a que políticas se referia, o comunicado final da cimeira criticou abertamente as sanções unilaterais dos EUA, as tarifas comerciais impostas por Trump e até o bombardeamento ao Irão, país agora membro do BRICS.
Outro ponto de fricção envolve as medidas do Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil contra as redes sociais, incluindo plataformas como o Facebook e o X (antigo Twitter), quando estas se recusam a cumprir ordens judiciais de remoção de conteúdos considerados desinformação ou discurso de ódio. Trump e os seus aliados políticos acusam tais medidas de violar a “liberdade de expressão”, pilar da sua base ideológica.
A situação foi ainda agravada pela medida provisória editada pelo governo brasileiro em Outubro, que impõe um imposto mínimo de 15% sobre os lucros de multinacionais com receitas superiores a 750 milhões de euros — medida que afecta directamente as big techs americanas, como a Meta (Facebook, Instagram, WhatsApp) e a Google, cujos líderes têm apoiado Trump no seu segundo mandato.
Enquanto isso, o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente brasileiro e actualmente a viver nos EUA, afirmou à CNN que as suas articulações políticas contribuíram para a manifestação de apoio por parte de Trump.
O presidente Lula da Silva, por seu lado, respondeu de forma firme: “Não aceitamos interferência de quem quer que seja. Cada país é soberano”, reforçando que o Brasil tem leis e instituições próprias.
Com múltiplos focos de atrito, desde tarifas comerciais até disputas ideológicas sobre redes sociais e o papel do BRICS, as relações entre os dois países vivem um dos momentos mais tensos dos últimos anos.