O ex-candidato presidencial moçambicano Venâncio Mondlane ameaçou desencadear uma nova vaga de protestos de grande escala, que classificou como “100 vezes piores”, caso continuem os episódios de violência contra os seus apoiantes. A declaração foi feita esta segunda-feira (14.04), em Quelimane, diante de milhares de simpatizantes.
A ameaça surgiu após o ataque a Joel Amaral, músico conhecido como MC Trufafa, e um dos rostos mais mediáticos da campanha de Mondlane nas autárquicas de 2023 e nas presidenciais de 2024. Amaral foi baleado por indivíduos desconhecidos no bairro Cualane 2.º, em Quelimane, capital da província da Zambézia.
Segundo o Hospital Central de Quelimane, onde se encontra internado, Amaral sofreu apenas ferimentos superficiais na cabeça. Palmira Nascimento, porta-voz da unidade hospitalar, confirmou que “não foi encontrada nenhuma presença de bala” após uma limpeza cirúrgica profunda.
Para Mondlane, o ataque a Joel Amaral não é um caso isolado, mas mais um episódio de “intolerância política” e de uma alegada “perseguição sistemática” aos seus apoiantes. O político afirma que, até ao momento, 47 coordenadores da sua estrutura foram assassinados, sem que a justiça tenha agido:
“Apresentámos queixa à Procuradoria, mas até agora nada foi feito”, denunciou.
Mondlane, que não reconhece os resultados das eleições gerais de 9 de outubro de 2024, tem liderado uma forte contestação contra o governo e as instituições eleitorais. Nos últimos meses, os protestos convocados por ele resultaram em centenas de mortes e na destruição de infraestruturas por todo o país.
Organizações da sociedade civil relatam cerca de 390 mortos, enquanto o governo moçambicano reconhece 80 óbitos, além da destruição de 1.677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias.
Apesar do cenário de tensão, em março deste ano, Mondlane e o Presidente Daniel Chapo reuniram-se e assumiram um compromisso de cessar a violência. No entanto, o novo ataque reavivou os receios de um novo ciclo de confrontos:
“Fui obrigado a apertar a mão ao Presidente porque me garantiram que as mortes e perseguições iam parar. Mas, com o que aconteceu ao Joel Amaral, eles estão a cumprir?”, questionou Mondlane.
A gravidade da situação reacendeu memórias de outro ataque trágico: logo após as eleições, em outubro de 2024, o assessor jurídico de Mondlane, Elvino Dias, e o mandatário do partido Podemos, Paulo Cuambe, foram assassinados numa emboscada a tiros no centro de Maputo.
O Presidente Chapo já condenou o ataque a Amaral, classificando-o como uma “afronta à democracia” e exigindo uma investigação rigorosa.
“Este ato de violência gratuita não é apenas um ataque contra um cidadão, mas também uma afronta aos princípios do Estado de Direito”, declarou em comunicado oficial.
Com o clima político novamente a aquecer, Moçambique permanece em alerta, enquanto cresce a pressão por justiça e estabilidade.