O Presidente de Angola, João Lourenço, expressou preocupações sobre as incertezas globais em relação à paz e segurança, com foco nas consequências devastadoras da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, e no conflito prolongado no Médio Oriente.
Durante um discurso, por ocasião da visita oficial da Presidente da Tanzânia, Samia Suluhu Hassan, Lourenço destacou os impactos dessas guerras, especialmente o sofrimento das populações civis. “Estamos a viver num mundo de incertezas”, afirmou, referindo-se à destruição da Faixa de Gaza e às dificuldades humanitárias enfrentadas pela região.
Lourenço também condenou a punição coletiva e a expulsão de civis palestinos de suas terras, apelando à comunidade internacional para que se manifeste com indignação e condenação. Encorajou as partes envolvidas no conflito israelita-palestino a retomar o diálogo e continuar os acordos de libertação de reféns e prisioneiros. Para ele, este é o único caminho possível para uma paz duradoura e a materialização das resoluções do Conselho de Segurança da ONU que defendem a criação de um Estado Palestino independente.
A sua liderança na União Africana foi outro ponto abordado no discurso, destacando a necessidade de o continente africano manter uma postura equilibrada frente aos conflitos internacionais, especialmente considerando as reconfigurações geopolíticas que afetam a força do direito internacional. “África deve ser uma voz firme na defesa de seus interesses”, afirmou.
Além disso, Lourenço fez questão de relembrar o trabalho de Angola na mediação do conflito no Leste da República Democrática do Congo (RDC). Devido à sua atual presidência da União Africana, Angola retirou-se da mediação direta, confiando a missão ao Presidente do Togo. O objetivo é garantir que a paz seja alcançada de forma estável e sustentável, com a RDC e Ruanda retomando o diálogo sob a supervisão da União Africana e da ONU.
Outro tema abordado foi o conflito no Sudão, onde o Presidente angolano pediu maior envolvimento da comunidade africana nas iniciativas de paz lideradas pelo Presidente de Uganda, Yoweri Museveni, para pôr fim à guerra no país.
Durante a visita de Samia Suluhu Hassan, dois acordos importantes foram assinados, um no setor de defesa e outro no domínio do investimento privado. Lourenço e Hassan também discutiram a interligação dos corredores ferroviários Lobito (em Angola) e TAZARA (na Tanzânia), visando facilitar o comércio e melhorar a conectividade entre África, Ásia, Europa e América. Este projeto promete reduzir os custos de transporte e o tempo de navegação, beneficiando a economia global.
A relação entre Angola e a Tanzânia, iniciada em 1981 com o Acordo Geral de Cooperação, foi também fortalecida com esses novos acordos, ampliando as áreas de cooperação científica, técnica e cultural. Lourenço também expressou felicitações à Presidente tanzaniana pela sua candidatura nas eleições de 2025.
Em resposta, Samia Suluhu Hassan reafirmou o desejo de estreitar ainda mais os laços com Angola, destacando, entre outras iniciativas, a eliminação da exigência de vistos para os cidadãos angolanos que desejem viajar para a Tanzânia. Ela também anunciou a visita oficial de João Lourenço à Tanzânia prevista para julho de 2026, um marco importante nas relações bilaterais entre os dois países.
A visita reforça a parceria estratégica entre Angola e a Tanzânia, com foco no desenvolvimento económico e na estabilidade regional.