O Irão apelou ao primeiro-ministro português, Luís Montenegro, para esclarecer “com coragem” e “rapidamente” se Portugal teve envolvimento no ataque do passado fim de semana a instalações nucleares iranianas, atribuído aos Estados Unidos. A preocupação foi expressa pelo embaixador iraniano em Lisboa, Majid Tafreshi, em entrevista à CNN Portugal.
No centro da polémica está a utilização da Base das Lajes, nos Açores, por aviões norte-americanos de reabastecimento, alegadamente no âmbito da preparação para o ataque. O diplomata iraniano afirmou que, caso se confirme o envolvimento português, o país “definitivamente fez parte da agressão”, defendendo que qualquer acto dessa natureza, sem autorização do Conselho de Segurança da ONU, deve ser investigado e responsabilizado.
O embaixador revelou que o Irão poderá abrir uma investigação própria sobre o sucedido, considerando “muito importante” apurar se houve apoio logístico de Portugal. Sublinhou ainda que “todos e cada um devem ser responsabilizados pelo que fizeram”.
No domingo, o Ministério da Defesa de Portugal confirmou que autorizou a utilização da Base das Lajes por 12 aviões norte-americanos, mas esclareceu que se tratava de uma operação no Atlântico, sem qualquer relação com ataques ao Irão.
Majid Tafreshi abordou ainda a questão nuclear, reiterando que o Irão continua a usar o urânio enriquecido para fins pacíficos, mas alertou que, face a ameaças externas, o país pode reconsiderar essa posição: “Se não tivéssemos mísseis, agora teríamos um país em ruínas”, afirmou. Quando questionado sobre a eventual posse de armas nucleares, foi claro: “Definitivamente que sim” informariam o mundo, o que significaria a saída do Irão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear.
O tom firme do Irão deixa o Governo português sob pressão para esclarecer, de forma transparente, o grau de envolvimento na operação militar dos EUA.