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    Alto Sundi pede socorro

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    Há três semanas, os deputados do círculo provincial de Cabinda realizaram uma visita à região do Alto Sundi, no município de Miconje. Foi um encontro importante com a população local, autoridades tradicionais e eclesiásticas, onde se pôde sentir, na pele, o sofrimento de um povo que parece ter sido completamente esquecido pelo Governo Central e, pior ainda, pelas autoridades do Governo Provincial, que deveriam representar os seus interesses.

    Durante a visita, constatámos de forma directa e inequívoca o estado absolutamente deplorável das vias de comunicação. A estrada encontra-se praticamente intransitável, com pontes destruídas e uma rede de telecomunicações inexistente. No Alto Sundi, os únicos meios de transporte disponíveis são motorizadas, cujo custo para chegar ao município de Belize ronda os 10.000,00 Kz, um valor inacessível para uma população mergulhada numa pobreza extrema. Resultado? Os produtos agrícolas apodrecem nas lavras por falta de escoamento, enquanto as famílias enfrentam dificuldades para obter até o básico, permanecendo isoladas do resto da província.

    Segundo a população, o único camião da Polícia Nacional, da marca INIMOC, que até então servia para apoiar tanto a logística das unidades policiais localizadas na região como, em solidariedade, o transporte ocasional da população, está avariado há meses. Abandonado, tal como o povo que dele depende, à espera de um milagre que tarda em chegar.

    O gerador que fornece energia eléctrica à localidade esteve inactivo durante mais de um ano, unicamente por falta de uma simples bateria. Numa tentativa de aliviar minimamente o sofrimento da população, os deputados presentes ofereceram uma bateria de 90 amperes e 50 litros de gasóleo. Não é uma solução definitiva, obviamente, mas foi um gesto que devolveu algum ânimo e um sorriso temporário aos nossos irmãos.

    Recordo-me, com alguma amargura, das palavras do padre local:
    “Assim que vocês já vieram, eles também virão em seguida.”

    E assim foi.
    Três semanas após a nossa visita, chegam-nos imagens da deslocação da senhora Governadora de Cabinda, Suzana Abreu, à mesma região. E, tal como nós, viu-se impedida de circular por todo o Alto Sundi, pois as pontes continuam destruídas. Teve, portanto, de regressar pelo mesmo caminho por onde entrou.

    A senhora Governadora foi, durante muito tempo, administradora municipal de Belize. Naquela altura, o Alto Sundi esteve sob a alçada da administração de Belize. Ou seja, a senhora Governadora não só conhece bem os problemas daquela zona como teve responsabilidade directa sobre eles.

    Mais do que uma visita tardia, espera-se que esta traga soluções imediatas e que não se encaixe no velho padrão das “visitas de charme”, onde se colhem apenas imagens para propaganda, evitando compromissos reais. Queríamos ouvir o que a Governadora disse ao povo do Alto Sundi, que soluções pretende implementar na região para o seu desenvolvimento. Só assim nós, enquanto deputados, poderemos cobrar responsabilidades no futuro.

    Infelizmente, até agora, apenas nos chegam imagens que confirmam aquilo que todos já sabíamos: abandono, miséria e esquecimento institucional.

    Não é aceitável que o Alto Sundi continue a ser tratado como um território fantasma, quando foi precisamente pelo Miconje que o MPLA e o Presidente Agostinho Neto entraram em Angola em 1975. A História não se apaga. E este povo não pode continuar a ser invisível para quem governa.

    Neste momento, o povo do Alto Sundi precisa de acções concretas: de pontes reconstruídas, de estradas transitáveis, de energia, saúde, educação e mobilidade. Precisa de dignidade.

    Apesar de a Governadora conhecer bem os problemas que assolam a população do Alto Sundi, esperamos que esta visita traga esperança e consolo governamental e que não tenha sido apenas mais um exercício de turismo político por áreas que bem conhece. Nós, na qualidade de deputados, nada mais podemos fazer senão aguardar pelos frutos desta visita. Caso contrário, denunciaremos a má governação e a irresponsabilidade da Governadora por reduzir o povo do Alto Sundi a meros instrumentos eleitorais e propagandísticos ao serviço dos seus interesses políticos.

    Do vosso irmão:
    Lourenço Lumingo

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