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    Chevron e a recusa que fala por si

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    Em Cabinda, a terra que abriga uma das maiores riquezas do país, o petróleo, as notícias de derrames constantes no mar tornaram-se quase rotineiras.

    A dor das comunidades que vivem à beira do oceano é invisível aos olhos de quem lucra com a exploração do ouro negro. Foi com o objetivo de trazer à tona essa realidade que os deputados do Círculo Provincial de Cabinda pediram, de forma legítima, uma audiência com a Chevron.

    A resposta da gigante petrolífera foi, no mínimo, desconcertante: a recusa.

    A empresa alegou que está em contacto constante com os ministérios competentes, como o da Energia e o do Ambiente, para resolver os problemas. No entanto, esta explicação soa mais como uma desculpa do que uma solução. Afinal, é de conhecimento público que os derrames de petróleo continuam a afetar as comunidades pesqueiras e o ecossistema marinho, sem que haja uma resposta eficaz da parte de quem tem o poder e os recursos para resolver a situação.

    O que se esperava da Chevron não era apenas o cumprimento de obrigações contratuais ou legais, mas uma postura mais humana e responsável. A recusa de dialogar com os deputados é uma clara demonstração de que, para a empresa, os interesses das populações locais são secundários. E aqui surge a questão: até quando as autoridades vão permitir que as empresas tratem os cidadãos como meros detalhes num contrato, em vez de respeitar o direito das pessoas à saúde, ao ambiente e ao bem-estar?

    É certo que a Assembleia Nacional tem a função de fiscalizar as ações das empresas no país, especialmente aquelas que operam com recursos naturais tão importantes para o desenvolvimento económico. Não estamos a falar de uma simples queixa sobre um serviço mal prestado, mas de uma questão que afeta vidas e ecossistemas inteiros. E a recusa da Chevron, ao não atender ao pedido dos deputados, não é apenas um gesto de arrogância corporativa; é um claro sinal de desinteresse pela realidade local e pelas consequências do seu negócio.

    O que mais impressiona, porém, é a postura das autoridades angolanas, que, em vez de pressionarem a Chevron para uma atitude mais colaborativa, se limitam a aceitar explicações vagas e a manter um diálogo distante, que parece mais um monólogo entre os ministérios e a empresa, do que um debate que envolva as comunidades afectadas. E enquanto isso, as águas de Cabinda continuam a ser manchadas, e as vidas das pessoas, que dependem da pesca e do ecossistema, seguem em risco.

    Mas os deputados de Cabinda não parecem dispostos a se deixar abalar pela recusa. Estão determinados a continuar a pressionar a Chevron e o Governo para que a questão seja tratada com a seriedade que merece. E isso é, sem dúvida, um sinal de que, mesmo quando as grandes corporações tentam desviar o olhar, a pressão popular e a fiscalização das autoridades podem e devem ser o caminho para a mudança.

    Em Cabinda, as pessoas não pedem promessas vazias, mas soluções reais. O petróleo que nasce do fundo do mar deve ser uma bênção para o povo, e não uma maldição que os afasta ainda mais do desenvolvimento. E, enquanto isso, a Chevron, com toda a sua força económica, tem o dever de perceber que o silêncio perante as dores das comunidades tem um preço – um preço que, um dia, pode ser mais alto do que imagina.

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